Hvid Død

Dia 27/08 foi a vez de Hvid Død / White Death / Morte Branca, um larp dinamarquês de 2013, desenvolvido pela Nina Runa Essendrop e pelo Simon Steen Hansen. Organizado por Luiz Falcão no Espaço de Tecnologias e Artes do SESC Itaquera, como parte da programação Apenas um Jogo, que vem ocorrendo mensalmente em 2017.

O larp contou com 7 participantes (+1 organizador, totalizando 8 pessoas envolvidas). O primeiro destaque vai para o extenso workshop que antecede o larp. O motivo? Morte Branca é um larp mudo, onde toda a interação entre os jogadores se dá pela expressão corporal. Desnaturalizar os corpos, e a necessidade de criar personagens a partir dos novos corpos, desenvolvidos a partir de exercícios que envolvem restrições de movimentos, levou os participantes à comentários sobre como, por vezes, não percebemos nossos próprios corpos.

Morte Branca é sobre um grupo de pioneiros que tentaram a vida nas montanhas, mas acabam o larp sobrepujados pela neve. Além de ser proibitivo quanto à verbalidade, trabalha com um grau muito elevado de simbolismo: o roteiro dinamarquês não trabalha com a reprodução de uma realidade prosaica. Pelo contrário, faz uso do poético, do abstrato, para criar significações em cada participante. Dentre os simbolismos emergentes, além dos próprios corpos, ora com restrições de movimentos e relações (os Humanos), ora sem restrições de movimentos ou relações (os seres brancos), é notável a efemeridade de sonhos, sobrevivência e fé demonstradas no larp por meio de (respectivamente) bexigas, sacos de açúcar e folhas de papel. Outro elemento digno de nota é a trilha sonora, cuidadosamente selecionada pelos roteiristas para conduzir o clima durante o jogo.

Depois de experienciado o larp, alguns dos comentários (podendo ser vistos em relatos aqui, aqui e aqui) orbitaram em torno das dificuldades de se expressar por meio de um corpo restrito, e em como o roteiro foi feliz em criar relações entre os participantes por meio de seus corpos desnaturalizados. Tal reflexão nos faz pensar em como nossos corpos engendram nossas vidas cotidianas. Outros comentários que me marcaram foram sobre a transição entre Humano e Ser Branco (um simbolismo presente no jogo para representar a morte das personagens): se por um lado havia o sentimento de liberdade de amarras, por outro havia um temor em não mais se relacionar com os outros. Como bem pontuou uma das pessoas que participou do larp, Mas afinal, não é isso que nos define como humanos? Se relacionar com os outros?

FONTE: Foto tirada por Luiz Falcão na realização do larp no Laboratório de Jogos (Belo Horizonte, 2014), pelo Grupo Boi Voador. Utilizada para divulgação no Evento no Facebook.

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