Sobre a Saturnalia Sorocabana


Ajuste os controles para o centro do sol. Foto de Clara Nolasco.

Nos dias 22 e 23 de Julho de 2017, três eventos tiveram por tema o larp na cidade de Sorocaba (interior de São Paulo). O apelido desse conjunto veio da proposta de Brian Morton, no livro Lifelike: um dos "primos" mais antigos dos larps seriam as Saturnalias romanas, festividades onde o roleplay marcava sua presença.

O primeiro desses eventos foi o encontro de julho do Grupo de Estudos de larp, que ocorre desde janeiro. A proposta do grupo é discutir livro a livro da conferência nórdica de larp. Em julho, o tema foi o livro da conferência de 2006, Role, Play, Art. Os eventos têm sido extremamente profícuos, com uma interlocução que, além do estudo do próprio larp, conta com aportes de áreas como o Teatro, a Filosofia, a Psicologia e a Comunicação.

O segundo evento foi o Ajuste os controles para o centro do sol, um larp de Luiz Prado. O larp foi escolhido para inaugurar a "blackbox sorocabana", apelido carinhoso para a garagem desocupada em minha casa, onde a partir de agora pretendo disponibilizar para um larp por mês, ao menos. Em "Ajuste...", tivemos a oportunidade de experimentar o jogo com duração mais estendida do que as aplicações anteriores (no Ciclo de Jogos Narrativos do SESC Sorocaba e no FERVO, em 2016, e no Território larp, no SESC Ipiranga, já em 2017). Experimentar o larp num espaço privado, mas ainda assim com a oportunidade de ter pessoas experimentando a linguagem pela primeira vez, foi muito gratificante. Seria impossível falar sobre o larp sem mencionar a alimentação, cuidadosamente selecionada pelo Luiz Prado para deixar os participantes no clima gastronômico monótono que a nave proporciona: um suprimento copioso de iogurte natural!


Para encerrar essa "Saturnalia", o Ciclo de Jogos Narrativos do SESC Sorocaba contou com "Então, Você Acha Que Consegue Dançar?", um larp disponibilizado pela Bait Byout, uma organização palestina de larp. Descrito como "um larp educacional para não-palestinos sobre a situação política interna palestina", nos proporcionou uma vivência intensa, e um vasto aprendizado, sobre a visão palestina dos eventos relacionados à ocupação israelense da cidade de Ramalá em 2002. Foi interessante discutir também as diferenças entre a produção palestina e a brasileira: a ideia de um GM (Game Master, ou Mestre do Jogo) é uma estrutura que não é dominante na produção nacional, assim como a presença de um grande número de exercícios de aquecimento e preparação. Por outro lado, assim como é o caso do Brasil, o larp palestino recebe forte influência da cena nórdica, sobretudo apontado pela inexistência de mecânicas vistas em "Então..". Destaque para o apontamento de todos os participantes sobre o valor educacional do larp.

Dessa série de eventos, saímos com a certeza de que temos muito a continuar explorando no larp, seja academicamente, seja explorando novos espaços, seja ampliando novos temas.

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